Os clientes comem e bebem no escuro. No estabelecimento, todos os garçons são cegos.
Menu confidence, para os amantes da culinária francesa, significa deixar por conta do chef a escolha de toda a refeição, da entrada à sobremesa. O restaurante parisiense Dans le Noir, no entanto, levou às últimas conseqüências esse conceito. Numa tradução livre, Dans le Noir significa No Escuro e é exatamente essa a proposta do lugar: comer e beber no breu total, sem nenhuma iluminação. Nenhuma mesmo. O cliente escolhe o prato no bar iluminado – em 90% dos casos opta pelo menu confiança – e é levado a sua mesa, em fila indiana, por garçons cegos ou com forte deficiência visual. Copos inquebráveis sobre a mesa, ele tateia atrás dos talheres e come sem saber se é peixe ou frango, arroz ou sopa. A intenção, dizem os criadores do restaurante, é acentuar o sabor dos pratos, criando uma experiência gastronômica única. “Quis reinvestir os lucros de minha empresa de software numa idéia útil”, afirmou Edouard de Broglie, dono do Dans le Noir, a ISTOÉ. “Eu a encontrei ao conhecer fundações para pessoas cegas na França e Suíça, que faziam esse tipo de jantar desde 1999.”
Apesar da estranheza da proposta, o Dans le Noir tem tido sucesso absoluto. É necessário fazer reserva com dois meses de antecedência tanto em Paris quanto na filial recém-aberta de Londres. E os clientes têm sido tão criativos quanto os donos ao explorar o lugar. É possível encontrar escritores acompanhando a leitura em voz alta de seus livros (feita em braile, evidentemente). Também há degustação de vinhos em testes cegos e excursões de escolas, que querem educar seus alunos sobre diferenças físicas. E, como não poderia deixar de ser, encontros às escuras. Literalmente.
Criado por dois ex-publicitários, o restaurante enfrenta críticas na mesma medida em que recebe elogios. Parte delas vem dos especialistas em gastronomia, que dizem ser absurdo comer sem olhar a comida: faz parte da experiência gastronômica observar cores, formas e texturas de pratos e vinhos, antes de degustá-los. As reclamações mais radicais, entretanto, vêm dos próprios cegos. O argumento é que o Dans le Noir é um truque publicitário insensível, à custa dos deficientes visuais. “Crítica é parte do negócio”, disse Broglie. “Mas acredito particularmente que seja uma experiência positiva e um modo interessante de tornar as pessoas sensíveis à diversidade.” Ex-presidente da agência de propaganda Young & Rubicam para Europa e Ásia e sócio de um fundo de investimentos chamado Ethik, Broglie completa seu raciocínio usando a frase que se lê sob a estátua de William Shakespeare, em Leicester Square, perto de seu restaurante londrino: “A única escuridão é a da ignorância.”
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Fontes: G1; Revista Isto É