quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"CAPDE ENTREVISTA ESPECIAL" COM O EX-PILOTO MÁRIO OLIVETTI!



Mário Olivetti e Rafael Capita
O ex-piloto Mário Olivetti, em visita ao Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, gentilmente concedeu uma pequena entrevista em um bate-papo descontraído com o nosso Coordenador Rafael Capita. Alguns internautas enviaram perguntas por email e gostaríamos de agradecer ao Marcos Roberto Cubas, Diego Winkler, Heleni Garbim e Alexandre dos Santos que contribuíram muito conosco!

Como começou a sua carreira?

Mário Olivetti: A minha carreira foi muito bonita, eu sou filho de pais analfabetos, quando eu tinha 8 anos meu pai disse que eu ia ser açougueiro, aí falei com ele “Pai, jamais, eu vou ser piloto”, aí ele dizia “Deixa isso pra lá Chico Bóia” (ele me chamava de Chico Bóia porque eu gostava de comer muito). Aí com 13 anos de idade eu consegui um trabalho e uma bolsa de estudos, trabalhei em um banco com 13 anos, carteira assinada, e comecei a estudar, aí me formei em contador e fui contador neste banco, que por coincidência foi em Itaperuna, em 1947. Aí eu vim pra Itaperuna e fiquei um tempo, o banco tava meio balançado financeiramente, ah, o dono do banco na época foi quem fundou a Água Raposo, aí o dono do banco começou a pegar o dinheiro aplicado e jogar para as empresas dele e o dinheiro passou a não ter rotatividade e aconteceu do banco falir, virou massa falida, mas antes da falência do banco eu tinha pedido demissão e fui para o Rio de Janeiro trabalhar na ESSO que importava a gasolina, o óleo, tudo que é combustível dos EUA. Tanto é que na época, quando o Lobato descobriu petróleo na Bahia exilaram ele, porque não podia descobrir o petróleo porque como os americanos iam vender? Enfim, não tinha indústria nacional. Aí comecei a trabalhar com meu futuro sogro numa firma de importação. Mas acabei de desentendendo com ele, aí um amigo me levou para trabalhar no Banco de Boston, na mesma época comecei a estudar no Santa Rosa para fazer o concurso do Banco do Brasil, de 6 mil candidatos eu fui aprovado em 41º. Daí fui trabalhar em Florianópolis, fiquei lá 3 meses, na época eu queria casar, morar em Petrópolis lugar onde eu já tinha uma oficina mecânica da Citröen. Aí em 1956 voltei pra Petrópolis e comecei a correr de Citröen. Na primeira corrida, Niterói-Cabo Frio eu quebrei, eu acelerava muito aí o óleo não voltava, acabou o óleo e o motor bateu aí eu quebrei. Aí eu chamei meu mecânico e disse pra colocar 2 carburadores e 4 marchas ao invés de 3 e vamos fazer uma refrigeração maior, com isso o carro passou a ter de 150 km/h pra 180 km/h aí comecei uma sequencia de vitórias nas corridas de Petrópolis, Volta Redonda, Rio-Caxambú entre outras. Daí comecei a correr e não parei mais. Depois entrei na Alfa Romeo em 1960 fui correr as mil milhas em São Paulo, aí fiz o protótipo, o JK, era conhecido como ‘tanto faz’ porque  quando ele derrapava você não sabia se ele tava de frente ou de costas, era o ‘tanto faz’ (risos). Aí tirei 3º lugar nesta corrida. Aí que começou, na época tinha o Chico Landi, uma turma muito boa, tinha o Fittipaldi também. Aí na época eu ganhei a representação da Alfa Romeo pra Petrópolis e comecei a vender Alfa Romeo, vendi caminhão inclusive aqui na cidade de Natividade para o Baião e Sr. Maurinho. Já em 1970 eu corri de Porshe com o patrocínio da Hollywood, eu ganhei as 3 primeiras corridas de ‘subida de montanha’, depois ganhei na inauguração do circuito de Curitiba com 5 voltas de vantagem sobre o 2º colocado. Depois, na corrida de Porto Alegre, na sexta-feira, fiz só 3 voltas e garanti a pole-position no treino de classificação, aí guardei o carro na garagem da Souza Cruz. Aí ficamos o sábado inteiro eu, o Carlinhos que era assistente do Piquet em Brasília e mais um amigo que é engenheiro, hoje ele ta na Petrobras, ele que trouxe o Porshe da Alemanha pra mim, ficamos lá preparando o carro, a tarde tava tudo pronto. Aí fomos pro hotel dormir. Os caras da Souza Cruz de São Paulo estavam doidos para me ‘torpedear’ e eu não sabia, aí foram lá e sabotaram o carro. No dia seguinte, em Viamão, ma corrida de exibição de Fuscas, antes da corrida pra valer, eu saí de 32º, mas o carro era um ‘foguete’ dava 90 km/h de 1ª marcha. Aí começou a corrida, na 8ª volta eu já era o 5º colocado, eram 30 voltas, aí eu via meu chefe de equipe, que era o pai do Andreas Mattheis, vibrando muito no muro dos boxes, torcendo né... Aí logo depois começou a piscar uma luz no meu painel, luz do óleo, nessa altura eu já estava em 2º lugar, não sabia se ia conseguir, aí eu pensei “Poxa, eu não vim aqui pra ganhar de Fusca, eu vim aqui pra ganhar de Porshe”, aí cruzei a linha de chegada em 2º. Aí quando peguei o Porshe pra volta de apresentação da corrida pra valer o carro não andava, pois tinha sido sabotado, aí não pude correr. Naquele dia eu chorei muito. Foi muita decepção. Aí cheguei no hotel, chamei o chefe da equipe Souza Cruz peguei o contrato e rasguei na cara dele. Aí o cara disse “Mas vai rasgar o contrato por causa de uma prova só?” Aí eu disse que sim que quando se perde a confiança não tem jeito e se eu não podia confiar nos boxes da minha própria equipe não tinha jeito de continuar e que outras provas viriam. Aí avisei a eles que em 30 dias teria as Mil Milhas de São Paulo e que eu venceria. Fui pro Rio, liguei pro Zé Moraes (que hoje é do Tribunal de Contas do Estado), pedi a ele um carro e disse a ele que eu queria correr e que seria eu e ele só, e íamos vencer porque eu me garantia. Avisei a ele que não queria propaganda no carro, pintamos de amarelo e preto, aí fui pra corrida em São Paulo. O Abílio Diniz correu aquela corrida com Alfa GT AM, andava feito um cão, mas só que aconteceu um imprevisto, durante a corrida choveu nas primeiras 2 horas, só que eu não tinha pneu de chuva, ia de slick aí o carro sambava pra todo lado. Fiquei 10 voltas atrás do líder. Só que aí a pista secou, aí o bicho pegou, fui tirando a diferença e fiquei a 1 volta pra eu vencer a corrida. Essa foi a maior prova que eu tive que a gente pode quando quer de verdade e quando as coisas acontecem fora da sua vontade é que não tinha que ser. Já sofri acidentes sérios, como uma capotagem a 180 km/h em Interlagos e saí andando do carro, não era minha hora por isso não morri.

Você foi tricampeão né?
MO: Sim, fui tricampeão carioca e campeão brasileiro de marcas em 1970 lá em Curitiba com o Porshe.

O que podemos esperar do automobilismo brasileiro, temos talentos novos despontando? Quais as perspectivas pro futuro do nosso automobilismo?
MO: Eu acho que nós temos grandes chances de crescer no automobilismo porque em todas as categorias estão despontando novos valores e é preciso que haja apoio para que os novos valores tenham possibilidade de se destacar, pois sem apoio ninguém vai a lugar nenhum. Tanto o automobilismo quanto o motociclismo são esportes que geram muitos gastos, então se o piloto não tem apoio financeiro ele fica sem condições de ocupar um espaço importante e muitas vezes nós perdemos um talento pela falta desse investimento. Por isso que eu acho que as grandes empresas devem investir no automobilismo brasileiro, temos muitos talentos, temos que proporcionar uma chance a esses talentos, é o caso da Souza Cruz, é uma marca de cigarro, eu não gosto de cigarro, mas eu já fui apoiado pela Souza Cruz. Eu também não bebo mas tive o apoio da Skol e fiz a Skol Caracu em 71, de Fortaleza ao Chuí. É isso que eu penso, que as empresas invistam nos jovens a partir dos 8 anos para podermos tirar esses jovens das drogas, das ruas e, quem sabe, descobrir novos campeões, mas acima de tudo fazer um trabalho social com esses brasileiros, pois talento temos, só falta o apoio financeiro adequado.

Como que você pensa em colocar em prática um projeto social ligado ao automobilismo para tirar esses jovens de 8 a 18 anos das ruas?
MO: Olha Rafael, você está me dando uma idéia que eu já encantei. Eu gosto de coisas desafiadoras, se você não souber encarar um desafio você não vai a lugar algum. Eu não sou uma pessoa que fica esperando acontecer, eu faço acontecer. As vezes a pessoa tem medo de dirigir por algum trauma, a gente tem que procurar tirar esse trauma, eu busco ajudar nisso, ajudar a pessoa a aprender a dirigir e acabar com esse trauma, as vezes a pessoa tem medo de escalar uma montanha, mas porque não sabe, ninguém a ensinou e tudo na vida é aprendizado, passo a passo você aprende seja o que for. O que tem que ter é uma pessoa para orientar, fazer com que esse passo a passo seja eficiente, é o caso de uma criança que pra aprender a andar tem que engatinhar, tem que ter uma mão ali para ajuda-la a se levantar dos tombos.

Você está trabalhando em algum projeto esportivo atualmente?
MO: Sim, eu quero trabalhar muito para criar ambiente favorável para os novos talentos terem espaço, poderem crescer. Além disso eu tenho um sonho que é fazer uma corrida, to montando um projeto pra isso, que entre outros pilotos estejam eu, meu filho e meu neto, fazer uma corrida de 3 gerações, o projeto ta pronto, a Porshe vai me apoioar. Eu já fui campeão pela Porshe em 70. Mas ainda eu não tive chance de executar e tudo. Na vida você tem que plantar, regar e colher, não adianta comer a fruta verde, tem que esperar ela madurar, a vida é assim, temos que ter essa sabedoria aí tudo vai bem.


Você conheceu Ayrton Senna? Fala um pouco sobre sua convivência com ele.
MO: Olha, veja bem, eu conheci o Ayrton no kart. Na época eu já estava meio afastado das pistas, mas eu acompanhava um cara que tinha acabado de ser tricampeão carioca, meu amigo Andreas Mattheis, que hoje é chefe de equipe na Stock Car que também foi um cara que sempre foi um exemplo, eu vou te levar lá na oficina dele, você vai ficar impressionado, é linda. No caso do Ayrton Senna que despontou no kart, chegou na Inglaterra deu aquele show, e logo no primeiro ano na F1 com a Toleman só não ganhou a primeira corrida por causa daquela sujeira do Balestre em Mônaco, que terminou a corrida antes da hora porque o Ayrton ia passar o Prost. Ayrton era um ‘demônio’ na chuva. Era ‘demônio’ não, era competente, ele sabia o que estava fazendo, ele não botava risco, ele fazia a competência dele superar o risco, ele era inacreditável. O primeiro treino dele pela F1 no Rio de Janeiro eu estava lá, fui lá ver. Eu estava lá com meu filho de 11 anos e minha filha que era um bebê, tiramos foto com ele, eu tenho essa foto, quero mostrar a vocês um dia. O Ayrton era um grande caráter, fiquei muito chateado com um tal de Nelson Piquet, que eu conheci nos meus boxes em Brasília, na época ele tinha 15 ou 16 anos (Entrevistador interrompe e pergunta: Posso publicar isso?)... pode, publica, o Piquet era um pela-saco em Brasília, ele era filho de um cara do Banco do Brasil, eu também era do Banco do Brasil na época, eu chegava lá pra treinar e ele ia lá na equipe e começava a mexer em tudo nos boxes, ele era metido pra caramba... era? Não, ele é. E o que aconteceu, o Piquet começou a falar do Senna, ah rapaz, eu peguei uma birra... Um exemplo, um grande amigo meu é o Emerson Fittipaldi, o Wilson nem tanto, mas o Emerson tem uma consideração comigo muito especial. Já me recebeu no escritório dele em Miami com a maior simpatia e respeito. São coisas que o Piquet não tem capacidade de fazer. Lembra o que ele fez com o filho né? O filho acabou pagando o que ele fez com todo mundo. A gente não tem que denegrir a imagem de ninguém, mas quando você é bom você é exaltado pelo que é e nunca pelo que você acha que você é. O Ayrton era muito humilde, sempre pedia opinião pra gente sobre pilotagem e outras coisas, ele nasceu pra correr, era o melhor em qualquer coisa que tinha velocidade, Jet sky, lancha, helicóptero... Já fui na casa dele, em Angra, duas vezes e ficava impressionado com a habilidade dele nessas coisas. Agora, era um cara que não era pretensioso como o Piquet, ele chegava e conversava... claro que ele tinha as idéias próprias, ele sabia o que fazia, ele estudava muito o que ia fazer e executava com perfeição, mas sempre aberto a trocar idéias, isso que era encantador nele.

O que você estava fazendo quando Ayrton sofreu o acidente e faleceu em 1994?
MO: Eu estava vendo a corrida pela televisão, foi muito triste, foi uma fatalidade, a barra de direção se rompeu... Quando ele descaiu o pescoço, depois da batida, eu percebi que ele tinha morrido. Daí desliguei a televisão e fiquei muito triste e nunca mais vi corridas de F1 com muita atenção, sempre olhei com desconfiança a partir daí, mas agora vou voltar a ver pelo Bruninho, sobrinho dele.

Qual o tamanho do impacto que o Bruno Senna pode ter na sua carreira por ter começado tardiamente no automobilismo? Você acha que ele pode se tornar um piloto top nos próximos anos?
MO: Vou te dar só um exemplo típico que aconteceu comigo e com um dos maiores de todos os tempos, Juan Manuel Fangio. Sabe quando ele começou a correr na F1? Com 40 anos. Sabe o que ele fazia? Só andava de carreteira no sul, na Argentina, no Chile, só que o Perón, um ditador argentino, resolveu propagar a Argentina pelo mundo, difundir a Argentina, daí pegou um dinheiro e resolveu investir no Fangio, mandou ele pra F1 com todo potencial e o argentino foi Pentacampeão do mundo. Por quê? Porque além do talento ele encontrou um apoio financeiro que ninguém pode recusar, ele foi apoiado pelo Perón, e ele não decepcionou, ele deu um grande retorno dando a Argentina uma grande projeção no automobilismo, além de ter sido um grande cara que tive o prazer de conviver até próximo da sua morte, vi ele correr aqui, na Gávea, na época eu ainda estava iniciando e ficava encantado. E o Bruno tem um grande exemplo que é o seu tio Ayrton, um espetáculo, uma pessoa que eu conhecia muito. O Bruno passou por dificuldades, não em questão de dinheiro, isso não é o único fator de dificuldade, só que existe a chance de você mostrar serviço. Como é que você mostra? Um exemplo, você quer ser jogador de um time de futebol e a pessoa lá não deixa você treinar porque tem outros que chegaram na sua frente, é o caso dele, ele foi preterido em certos momentos... pra ele mostrar serviço, ninguém mostra serviço sem treinar, se você treinar e você for bom o resultado começa a aparecer. Eu, particularmente, acho que ele vai longe, agora ele está numa equipe estruturada e ele vai conseguir, eu torço por ele como torcia pelo Ayrton.

Muitos fãs do Bruno Senna tem prestigiado nosso trabalho acessando e divulgando nosso blog, gostaria que você mandasse um recado para esses fãs.
MO: Os fãs do Bruno devem fazer exatamente isso que estão fazendo, serem fãs do Bruno de forma incondicional, nas vitórias e nas derrotas, mas acompanhar sempre porque nós, pilotos, sentimos muita falta desse entusiasmo dos torcedores, dessa convivência. Não é só na vitória que você tem que ser aplaudido, você tem que ser aplaudido em todos os momentos que você é correto. Eu acho que o Bruno tem talento pra ser campeão do mundo, e vai ser!

Voltando a falar da importância do investimento financeiro no automobilismo, qual é o peso do Eike Batista hoje pro automobilismo nacional?
MO: Ele entrou agora com o Bruno Senna só que eu acho que ele tem potencial pra fazer muitas coisas que nós que somos do ramo podemos chegar pra ele e falar, porque ele é empreendedor, tem potencial e não está pensando em dinheiro só pra ele, ele quer um desenvolvimento total, tanto é assim que ele cria oportunidades pra muita gente em muitos ramos. Eu acho que essa parceria vai dar certo, muita coisa.

Agora vou fazer perguntas mais rápidas e diretas... Qual é o melhor piloto da atualidade?
MO: Gosto muito do Lewis Hamilton, mas ele anda mascarado. O Vettel também é muito bom, acho que os dois são os melhores do grid atual.

Qual foi o piloto mais competitivo com quem você correu contra?
MO: Sem dúvida o Emerson Fittipaldi, mas o Chico Landi também andava demais.

Pra você qual foi o maior de todos os tempos: Ayrton Senna ou Michael Schumacher?
MO: Mas isso não tem nem comparação, o Ayrton dava de 10 a 0 no alemão, se a carreira do Ayrton tivesse durado mais o Schumacher não ia ter tantos títulos nem tantos recordes.

Mário Olivetti fala sobre o projeto da Casa de Apoio aos Deficientes: (Video)



Para conhecer mais da história vitoriosa do ex-piloto Mário Olivetti acesse http://puntata-taco.blogspot.com/2010/04/tributo-mario-olivetti-ii.html



ASCOM 

2 comentários:

  1. Parabéns a CAPDE pela entrevista! Grande Mário Olivetti, grande exemplo, um campeão humilde que não abre mão de ajudar ao próximo! Ótima entrevista!

    Roberto - São Paulo/SP

    ResponderExcluir
  2. Legal essa entrevista pois ele faz nosso automobilismo pois foi um incetivador ele merece nossa homenagem pois ainda hj tenho contato com ele tanto q fiz uma pagina em meu Orkut com fotos dele e atravéz dele vim a gostar do automobilismo e hj fiz ate uma replica de sua Alfa GTA 65 q tambem esta lá pois ele tem muita historia de acontecimentos em corridas valeu abraço Ricardo

    ResponderExcluir