sábado, 16 de junho de 2012

Quando o pouco é muito!

Quando o assunto é trabalho com deficientes físicos e/ou mentais muito se fala em desenvolvimento psicossocial, melhora em qualidade de vida e inserção social. Realmente esses são os principais objetivos a serem alcançados com esta clientela. Não é um trabalho fácil, requer paciência, persistência, capacidade técnica e um envolvimento conjunto de toda uma equipe de trabalho além da boa vontade de parceiros da sociedade civil. No nosso caso, em específico, há um fator dificultador nesse processo que é o fato da maioria dos acolhidos terem sido, por um motivo ou outro, abandonado por seus familiares. Essa falta da referência familiar deixa o caminho a ser percorrido ainda mais longo e difícil, pois a família é a base mais importante para um bom desenvolvimento psicológico do indivíduo. Tentando minimizar essa falta da estrutura familiar que a maioria dos acolhidos tem é que temos desenvolver um trabalho diferente com relação à maioria dos modelos de tratamento que temos. É extremamente importante proporcionarmos a eles uma sensação de segurança, darmos a eles um lar, com todos os direitos e deveres que qualquer cidadão do Brasil e do mundo tem em sua casa. Procuramos nos distanciar, ao máximo, do modelo de 'clínica', pois a Casa de Apoio aos Deficientes na verdade é o lar de cada um deles. Procuramos ensinar regras, limites, como os pais fazem com seus filhos, com hora certa de acordar para ir a escola, de almoçar, de fazer sua atividade de casa, mas também com a liberdade de curtir a sua casa, se divertir, descansar e etc. Certamente isso não substitui a família, nada substitui a família, mas é o pouco que podemos fazer e que da um resultado extremamente satisfatório em todos os aspectos do desenvolvimento. Em quase dois anos de trabalho alcançamos vitórias significativas com esse modelo, como a redução da internação em hospital psiquiátrico para ZERO, inserção de deficientes no mercado de trabalho (hoje temos uma trabalhando como babá e outra como auxiliar de cozinha em casas de família), a alfabetização de alguns que conquistaram a capacidade de ler e escrever e o mais importante, a alegria de viver, o conforto, a dignidade de viver em sociedade, de estar inserido e fazer parte da sociedade que sempre os discriminou.
A luta é grande e nós não nos damos por satisfeitos, ainda temos muito a fazer em prol dessas pessoas tão especiais que nos ensinam a cada dia a dar valor ao que geralmente não damos, às coisas simples da vida.


Rafael Capita
Coordenador Técnico

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